Durante o mês em que estive em Nova Iorque, fiz boa parte das minhas refeições no Washington Square Park. Pegava um bagel e um latte pela manhã ou uma salada no almoço e ia observar o movimento de suas alamedas arborizadas. A presença mais constante no parque – que, aliás, mais se parece com uma grande praça – eram as dezenas de turistas. Todos os dias passavam, apressados, com seus guias em mãos e uma indisfarçável expressão de desapontamento. Não, nada de muito extraordinário para fotografar. Não, nem sombra do glamour cenográfico do Central Park.
Geralmente menos barulhento que o entorno e mais fresco por conta das enormes árvores, o Washington Square não é sobre o arco, a fonte ou sua história. Em meus despretenciosos cafés e almoços, pude apreciar ali o desenrolar do verão nova iorquino. Observei repetidamente os universitários a caminho da aula, jovens atores encenando Shakespeare para os passantes, músicos atrás do seu ganha pão. Visitas guiadas de calouros animados ao lado de seus pais preocupados, estudantes com notebooks embaixo das árvores. Leitores. Casais novos e apaixonados, casais antigos e cansados. Vi um casal muito jovem que terminou o relacionamento de forma pacífica e muito triste, em um dos bancos mais reservados. Trabalhadores com suas marmitas comendo em silêncio, gente de escritório com seus sanduíches e muito falantes. Vi Hare Krishnas. Alguns mendigos. Pais e filhos com frisbies ou bolas de basebal, às vezes espontâneos, às vezes como que saídos de um banco de imagens. Pessoas esperando o tempo passar, a vida passar, alimentando os esquilos muito acostumados ao contato com humanos. Babás negras com crianças brancas, meninos e meninas se refrescando na fonte. Senhores e senhoras de idade e seus cuidadores, todos eles com o olhar parado de quem vive por muito tempo um dia igual ao anterior.
O parque se tornou um dos meus cantos preferidos da cidade. Não pela sua beleza e também não exatamente pela diversidade de personagens que se encontram ali. Mas talvez porque, de alguma forma, ali, todos eles se sentem em seu próprio quintal. E, por isso mesmo, desobrigados de serem extraordinários.